O atual território do concelho de Arruda dos Vinhos, à semelhança de outras zonas da região, foi alvo de uma intensa romanização. Situado na zona norte do ager Olisiponensis, a norte de Olisipo (Lisboa), este território revela uma presença romana particularmente marcada.
De acordo com a Carta Arqueológica de Arruda dos Vinhos (2017), foram identificados dezasseis sítios arqueológicos com vestígios da ocupação romana. Destacam-se, na freguesia de Arruda dos Vinhos: Casal da Fonte de Pau, Casal das Antas de Baixo, Casal das Pias, Casal do Letrado, a Vila de Arruda/Adro da Igreja de Nossa Senhora da Salvação, Nossa Senhora do Monte, Relva, Quinta da Crispina e a Vinha da Quinta da Crispina. Na freguesia de Cardosas salientam-se o Forno Romano da Pipa e a Quinta das Caldeiras; em Santiago dos Velhos, o Casal Novo, Casal das Contradinhas e a Igreja de São Tiago dos Velhos; e na freguesia de Arranhó, os importantes sítios do Castelo (Forte do Paço) e do Moinho do Custódio.
Os primeiros vestígios da presença romana no concelho remontam ao século II a.C., sugerindo contactos entre as comunidades indígenas e os primeiros agentes romanos. O sítio do Castelo (ou Forte do Paço), na freguesia de Arranhó, revelou-se fundamental para compreender essa transição. As escavações realizadas entre 1988 e 1999 permitiram identificar dois denários de prata datados de 153 a.C. e 134 a.C., bem como fíbulas da segunda metade do século I a.C., associadas a equipamento militar romano.
As campanhas arqueológicas mais recentes (2021–2023) vieram confirmar e aprofundar este cenário. Foram descobertos um novo denário datado de 119 a.C. e um anel de bronze com uma granada engastada, ambos revelando sinais de reutilização simbólica. O conjunto cerâmico recolhido — composto por recipientes de armazenamento e utensílios domésticos comuns como panelas, potes, talhas e tigelas — é maioritariamente de fabrico local, com um único fragmento possivelmente originário da região de Cádis. Estes materiais apresentam fortes paralelos com os encontrados em sítios vizinhos como o Monte dos Castelinhos (Vila Franca de Xira) e o Castro de São Salvador (Cadaval), reforçando a integração regional da ocupação.
Estes achados evidenciam também a importância simbólica e pessoal de certos objetos no quotidiano das comunidades instaladas no Castelo. Embora os dados disponíveis não permitam afirmar com segurança uma oposição dos povos indígenas à ocupação romana, existem claros indícios de aculturação. Exemplo disso são as estelas funerárias de ANNIA MAXSUMA (Casal das Pias) e AMOENA MAELGEIN (Igreja de S. Tiago dos Velhos), com nomes indígenas inscritos em latim, sinal de uma progressiva integração cultural.
A localização geográfica da região, com solos férteis, clima ameno e situada entre o interior da Península de Lisboa (Estremadura) e a principal via romana entre Olisipo e Bracara Augusta, tornou-a particularmente atrativa à colonização romana, incentivando a expansão da ocupação durante o período imperial.
A romanização implicou o abandono progressivo dos povoados fortificados de altura, substituídos por villae e casais agrícolas nos vales férteis, sobretudo ao longo do Rio Grande da Pipa. Os materiais arqueológicos aí encontrados evidenciam uma ocupação estruturada e duradoura, com redes fundiárias adaptadas à exploração agrícola. A fundação de villae, vici e casais intensificou-se com a elevação de Olisipo a municipium entre 31 e 27 a.C.
O vale de Arruda apresenta uma elevada concentração de sítios romanos, beneficiando da qualidade agrícola dos seus solos. Em contraste, o sul e o oeste do concelho registam uma ocupação romana menos expressiva, dominando aí planaltos áridos e menos férteis, preferidos na pré-história por razões defensivas.
As condições naturais favoráveis — solo fértil, clima temperado e a presença do Rio Grande da Pipa — explicam a ocupação humana contínua desde o Neolítico, bem como a atratividade que este território exerceu sobre os colonizadores romanos. O rio revelou-se uma via de comunicação estratégica entre o interior e o estuário do Tejo, complementada pela crescente importância das vias terrestres no processo de romanização. Estes fatores transformaram Arruda dos Vinhos num território central no ager Olisiponensis, com papel económico e estratégico de relevo na organização regional.