As Linhas de Torres Vedras
Durante as Invasões Napoleónicas, Arruda dos Vinhos desempenhou um papel fundamental na defesa da cidade de Lisboa, através das Linhas de Torres Vedras, um sistema de fortificações militares construído sob o comando do General Wellington. Este sistema de defesa, projetado para proteger a capital de novas invasões francesas, foi uma das maiores realizações militares da época e é considerado um marco na história da arquitetura militar europeia.
As Linhas de Torres Vedras consistiam em duas linhas principais de fortificações, interligadas por uma rede de estradas militares, e protegiam as principais vias de acesso a Lisboa, bem como a costa atlântica e o estuário do Tejo. O território de Arruda dos Vinhos, situado a norte de Lisboa, foi crucial para a implementação desta defesa estratégica. A região alberga várias estruturas militares, destacando-se três fortificações de grande importância na 1ª Linha de Defesa:
Forte do Cego (Obra Militar n.º 9)
Localizado a 353 metros de altitude, a sul de Arruda dos Vinhos, este forte foi projetado como um ponto de observação e controle da paisagem. Equipado com 4 canhoneiras (com peças de calibre 9 e 12) e tinha capacidade para 280 soldados.
Forte da Carvalha (Obra Militar nº 10)
Situado a 394 metros de altitude, é estava equipado com 4 canhoneiras e capacidade para 400 soldados.
Forte do Paço (Obra Militar nº 12)
Situado no Casal do Castelo, na freguesia de Arranhó, este forte protegia a estrada que ligava Arruda dos Vinhos ao Sobral de Monte Agraço, em colaboração com o Moinho do Céu (Obra Militar nº 11) a este e o Forte da Caneira (Obra Militar nº 13) a oeste. De menor dimensão, tinha uma capacidade para 120 soldados.
Além das fortificações, a rede de estradas militares desempenhou um papel essencial no funcionamento do sistema das Linhas de Torres. Elas permitiam a movimentação rápida das tropas e a troca de ordens, sendo fundamentais para a coordenação da defesa. No território de Arruda dos Vinhos, existem troços bem preservados destas vias, como:
Estrada Ajuda/Bucelas: Este troço, que se estende por cerca de 1600 metros, segue paralelamente à Serra de Alrota, ligando Arruda dos Vinhos a Bucelas, no concelho de Loures. A estrada, agora parcialmente interrompida pela nacional que vai para Bucelas, é um excelente exemplo de como as vias militares conectavam as fortificações.
Troço de Arranhó: Outra via militar importante, este troço ligava Arranhó ao Forte do Alqueidão e ao Forte do Paço, sendo um dos principais eixos de comunicação da 1.ª Linha de Defesa.
Estrada de A do Baço: Esta via segue ao longo do Rio dos Matos e conecta a freguesia de Arranhó a Sobral de Monte Agraço, passando pelo Forte do Alqueidão e por outras fortificações secundárias.
Além das vias principais, havia uma rede secundária de estradas militares, ligando os fortes mais afastados da linha frontal às fortificações avançadas.
Estas fortificações e vias militares formam um complexo defensivo que não só impediu a entrada das forças francesas em Lisboa, como também representaram uma adaptação exemplar das características naturais da região para fins estratégicos. A utilização de colinas e vales, que já tinham sido empregadas por povos pré-históricos, proporcionou vantagens decisivas na defesa da capital durante as Guerras Peninsulares.
A fortificações em conjunto com o troço de estrada militar Ajuda/Bucelas, são classificadas como Monumento Nacional desde 27 de março de 2019.
No ano de 1811 foi realizado um inquérito às paróquias sobre os estragos causados pelas Invasões Francesas nas respetivas paróquias e freguesias. Os párocos locais dão conta de apropria-ções de bens dos habitantes, saques e destruição de igrejas e capelas (algumas destas foram transformadas em arrecadações de material de guerra e de mantimentos). Nas descrições dos párocos, nas freguesias de Arranhó e S. Tiago dos Velhos é atribuída a responsabilidade aos Ingleses e na freguesia de Cardosas ao Franceses, aquando da passagem e curta estadia por Arruda.
O conjunto das Linhas de Torres Vedras, com as suas fortificações e vias militares, constitui um dos mais notáveis legados históricos de Portugal. Hoje, estas estruturas são um património de valor incalculável, não só pela sua importância na defesa nacional durante as Invasões Napoleónicas, mas também pela sua relevância na compreensão da evolução estratégica e militar da região. A preservação deste património é fundamental para a valorização da história de Arruda dos Vinhos e a memória da luta pela independência de Portugal.